Antonio Cabral Filho
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SOBRESSALTO
Como os últimos momentos são tão iguais que quando surgem causam sobressaltos, aquele não foi diferente.
Eu estava com os olhos protegidos contra a poluição visual; por isso tive de ativar a visão para acreditar e aguçar a memória para ver o moço, tão sobressaltado quanto eu, sentado ao meu lado no coletivo, que tirava cigarros do maço, acendia-os, fumava a té à metade e jogava as cinzas e as baganas no piso do carro, entre nós dois.
Mexia-se inquieto, cruzava e descruzava braços e pernas, nas pausas entre um cigarro e outro.
Quando restava o último, acendeu-o, cruzou as pernas e acomodou como quis o braço desocupado sobre o joelho, enquanto chamineava cinzentas baforadas de fumaça, ansioso e exausto.
De repente, atirou o cigarro no chão, e se levantou irritado, dirigindo-se a mim:
- Que que há meu chapa?! Por que está me prestando atenção??
Como os últimos momentos são tão iguais que quando surgem causam sobressaltos, fiquei sobressaltado, e disse-lhe que finalmente arrancara uma palavra de alguém, pois uma troca de ideias hoje em dia, é coisa de paranoico mesmo!
Em seguida, nós dois, sobressaltados um com o outro, saltamos do ônibus e sumimos, correndo em direções contrárias.
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Antonio Cabral Filho Em Prosa
http://antoniocabralfilhoblog.blogspot.com.br/
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