domingo, 30 de agosto de 2015

O Pulo Do Gato * Milton Costa De Souza - RJ

Milton Costa De Souza
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O Pulo Do Gato

Ele estava acuado. A mulher cobrava-lhe mais vigor, melhor desempenho sexual. 
O agiota queria receber a dívida toda de uma vez.
O chefe dizia que ele não estava rendendo o suficiente.
Deu uma festa, e, quando todos estavam embriagados, abriu a porta do apartamento, chamou a atenção para si, e, quando todos os notaram, tirou o pino da granada, deu um sorriso indecifrável jogou-a, fechou a porta e ouviu o estrondo.
Dizem que hoje ele prega a salvação num dos lados da Praça Tiradentes.
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MCS é formado em matemática pela Uff e professor da rede pública estadual do Rio de Janeiro, é contista, poeta e cronista.
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domingo, 23 de agosto de 2015

Sobressalto - Mini Conto - Antonio Cabral Filho - Rj

Antonio Cabral Filho
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SOBRESSALTO

Como os últimos momentos são tão iguais que quando surgem causam sobressaltos, aquele não foi diferente.
Eu estava com os olhos protegidos contra a poluição visual; por isso tive de ativar a visão para acreditar e aguçar a memória para ver o moço, tão sobressaltado quanto eu, sentado ao meu lado no coletivo, que tirava cigarros do maço, acendia-os, fumava a té à metade e jogava as cinzas  e as baganas no piso do carro, entre nós dois.
Mexia-se inquieto, cruzava e descruzava braços e pernas, nas pausas entre um cigarro e outro.
Quando restava o último, acendeu-o, cruzou as pernas e acomodou como quis o braço desocupado sobre o joelho, enquanto chamineava cinzentas baforadas de fumaça, ansioso e exausto.
De repente, atirou o cigarro no chão, e se levantou irritado, dirigindo-se a mim:
- Que que há meu chapa?! Por que está me prestando atenção??
Como os últimos momentos são tão iguais que quando surgem causam sobressaltos, fiquei sobressaltado, e disse-lhe que finalmente arrancara uma palavra de alguém, pois uma troca de ideias hoje em dia, é coisa de paranoico mesmo!
Em seguida, nós dois, sobressaltados um com o outro, saltamos do ônibus e sumimos, correndo em direções contrárias.

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VIDE MAIS
Antonio Cabral Filho Em Prosa
http://antoniocabralfilhoblog.blogspot.com.br/ 
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domingo, 16 de agosto de 2015

VIETNÃ - Conto * Celso Cardoso - RJ

CELSO CARDOSO
contista, roteirista, ex livreiro
 em Niterói-Rj.
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VIETNÃ

Largo da Carioca - uma tv pirata entrevista um menino. Ele tem uma meia de mulher no rosto, que depois de convencido que o programa não vai passar no Brasil, retira. O repórter diz:
- Fala garoto. A gente quer ouvir a sua história.
- É o seguinte: eu nasci em Bangu. Minha mãe veio grávida de mim, da Paraíba. Eu tô com 14. Meu pai não pôde mais ficar lá, por causa de negócio de seca, falta de trabalho, essas merdas. Toda vez que ele enchia os cornos ele falava essa porra. Como ele bebia todo dia, era aquela ladainha. Ele morreu quando eu tinha 10. Minha mãe diz que ele se foi com aquela doença que tem quem bebe cana todo dia. Ah, sei lá o nome! Deixou minha mãe com uma porrada de filhos, dois deles retardados. Tem um porém que eu acho que devo contar. É o seguinte ela é mais velha que eu só 13. E eu sempre tive tesão por mulher mais velha. Fiquei um mês cantando ela. Na rua eu agarro mesmo; se tô afim, vou lá e confiro na maior. Se chiar, boto o trezoitão nos cornos e tem que abrir a droga das perna, senão leva coronhada. Atirar, não atiro porque é desperdício matar mulher. Então fiquei nessa de cantação da minha mãe, por mais 15 dias. Aí um dia eu não aguentei; já tinha cheirado todas; cheguei em casa muito aloprado. E afinal eu era o homem da casa, não era? Então a dona da casa tinha que ser minha mulher. O fato dela ser minha mãe foi só um acidente de trabalho. Cheguei e botei as crianças pra fora. Vão brincar, vão brincar, porra! Gritei. E como eles tem medo de mim saíram correndo. Aí eu tranquei a porta e disse: agora é nós, dona menina. Ela ameaçou jogar uma panela em cima de mim; eu apontei o berro pra testa dela. Ela largou a porcaria da panela e começou a chorar. Disse que eu não tinha o direito de fazer aquilo, porque era seu filho e caralho a quatro. Falei com ela pra parar com aquele papo furado, porque a gente tá numa guerra, e eu não escolhi meu lado, não tive esse direito. Então esse papo de pai, mãe, é pra tempo de paz.  Eu sou um guerreiro, um general do meu exército, dou ordens. Comigo é muito simples: não obedeceu, eu queimo. Não é fácil? Então eu falei que a partir daquela data acabava a brincadeira de mãe e filho; daqui pra frene a gente é marido e mulher; e é melhor aceitar e facilitar as coisas, senão vai ficar ruim pra todo mundo. Vou começar queimando o caçulinha, que você tanto gosta. Na primeira trepada, ela fez o maior berreiro, dizendo que eu era um filho desnaturado, que eu ia pro inferno. Ela falando e eu metendo bronca. Quando derrubei ela no chão da cozinha, ela levou junto a mesa com o copo, panela e uma porrada de outras coisas e eu nem me incomodei. De repente as crianças lá fora começaram a chorar e eu fui obrigado a dar um tapa nos cornos dela, pois tava assustando as crianças sem necessidade. Nessa noite eu queimei uns três e, de madrugada, trouxe comida e dinheiro e comecei a ser tratado  como um herói dentro de casa. Eu sabia que tava certo. Eu sabia !
- Você já matou muita gente?
- Já perdi a conta. Comecei com uns 11 anos, três de atraso. Mais de 20 eu tenho certeza de ter apagado. Agora tem um negócio: se eu for em cima do otário e ele passar a grana sem chiar nem reagir, eu deixo ele ir numa boa; qualquer reação, eu queimo logo, nem converso.  Tem neguinho aí que queima à toa. São meio vampiro, adoram sangue. Eu tô afim é de grana. Já falei que tenho família. Meus irmãos agora são meus filhos. 
- Você já foi preso?
- Qual é, meu irmão? Eu sou esperto. Um monte de neguinho foi apagado ou dançou. Eu não sou otário nem faço parada com otário. Tô sempre mudando de casa, não dou bobeira. Uma vez os home foram lá em casa, eu não tava. O pessoal enrolou e alguém foi me dar o toque. Aí eu vi que tinha que mudar e tenho feito assim até hoje. E não é só os home; tem muito neguinho que caça a gente. Já troquei tiro com uma porrada deles, não marco bobeira. Só que cada vez é maior o número deles, já derrubei um monte, mas eles parece que se multiplicam.
É o seguinte; eles não tem coragem de roubar e ficam matando crianças, porque é mole. Mas pra cima de mim, não! Olha aí, tu tem certeza que essa merda não vai passar na GLOBO?
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domingo, 9 de agosto de 2015

Amor A Nictheroy * Carlos K Couto - RJ

Carlos K Couto 
Amor A Nictheroy
em 15 de março de 1975. E sempre...
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Nos bosques do Capo de São Bento aprendi a ler,
na Rua da Aclamação a escrever,
ondas de Icaraí ensinaram-me a furar a vida.
Areias do Saco me abriram o sexo; tábuas do Municipal a força do teatro; páginas O Fluminense isso de perseguir.
Barcos do Portugal Pequeno  a ansiar o mundo lá.
Saudade? Aprendi no Porto, lembrando do Gragoatá. E, em Marrocos, pensando nas mulatices de cá. E, em Paris, longe do meu caminho.
Muitas vezes - quantas vezes - águas atravessei, sempre de volta nadei à minha Praia tão Grande, espumas a cantar baixo, lambendo-me feridices. 
Não, não vou parar que as ruas todas, todas são minhas. Mas ousei e ousarei, porque bem sei ter Nictheroy.
Então, agora, que minha cidade, minha vaidade, deixou de ser Capital e a tornaram bairro do Rio ( que virou Grande graças a ela ), bacana poder gritar com os poros todos:
O meu canto é Nictheroy meu coração é Nictheroy minha gente é Nictheroy!
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Referência

Biblioteca Nacional
http://consorcio.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=livros_pr&db=livros&ss=new&disp=card&use=pn&arg=couto,%20carlos%20k   
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Obs do Editor:
 Em janeiro de 1997, publiquei este texto no CURUPIRA como conto e continuo vendo-o assim. Na ocasião disse ao pé da página: Carlos K Couto nos deixou um pouco órfãos, quando em maio de 1993 o enfarto o arrancou de nossas vidas. E registro aqui a minha admiração por esse luso-brasileiro que conquistou minha simpatia pela sua simplicidade, pelo modo despudorado de se expressar e pela franqueza de sua relação com a cidade e as pessoas, inclusive comigo, quando me encontrava nas livrarias de Niterói, sempre me interpelando "já mudou o mundo..."
Antonio Cabral Filho - RJ
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domingo, 2 de agosto de 2015

Poetas E Vagabundos * Antonio Fraga - RJ

Poetas E Vagabundos
ANTONIO FRAGA,
em entrevista à Professora
Maria Célia Barbosa Reis da Silva, publicada no site
http://www.espacoacademico.com.br/038/38csilva.htm   
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ANTONIO FRAGA
http://letrastaquarenses.blogspot.com.br/2014/02/clave-de-sol-antonio-fraga-rj.html 
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O cartaz na parede ensinava "Beba mais leite" Dodo do "Flor do Estácio" dizia que aquele cartaz era um bom negócio Era mesmo Tão bom que quando desabrigo mais miquimba acabaram de boiar e viram o cartaz se lembraram na mesma horinha  de tomar umas batidas de abacaxi  e só depois é que desabrigo sentiu umas porradinhas nas costas  Virou pra ver quem tava dando  e ficou cheio de vento quando evêmero falou  que tinha vindo só por causa  dele e mandou logo o garção trazer três batidas duplas de tamarindo Apresentou também
- Este aqui é o miquimba que já foi bicheiro jogador de chapinha e agora vai ser beque do poesia futebol clube.
- Muito prazer.
- Muito prazer.
Se apertaram as mãos evêmero sentou Desabrigo pegou a falar
- Sabe miquimba?...
Miquimba não sabia mas ficou sabendo que evêmero já tinha escrivido poesia no jornal e agora ia botar num livro a vida de todo vagabundo e mulher da vida que ele Soubesse
... não é evêmero?
Seu evêmero fez que sim com a cabeça e como já tava mais pra lá do que pra cá por causa das batidas deu de contar uma história comprida de miserê que acabou com um negócio assim
- Sou poeta por ser vagabundo ou vagabundo por ser poeta? A resposta depende muito de quem faz a pergunta Do ponto de vista ético todo vagabundo é poeta Poeta ou vagabundo em potencial mas sempre poeta e vagabundo ou vagabundo e poeta Ora se entre poetas e vagabundos a diferença é milimínima não acontece o mesmo entre vagabundos e malandros O primeiro é sempre um idealista e é progmatista e é povo Há entre os dois a diferença quilométrica que há entre uma balada de françois villon e um samba de noel rosa...
Miquimba não tava pescando níquel e ia pedir pra ele trocar aquilo em miúdos quando desabrigo disse
- quando ele começa a falar é porque já tá porradinho da silva.

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