Cotidiano
Ronilson Lopes
Sacolão. Tomate, chuchu, batata, alface, cebola, pimenta. Toda semana. Desde o início deste ano corrente.
Rotina?
De fato! É o mesmo caminho. Geralmente as mesmas frutas e verduras são compradas. No entanto, nunca é rotina.
Por quê?
Moro na rua Getúlio Vargas número 46. Para chegar ao Sacolão desço duas quadras da mesma e dobro a esquina na Madre Gertrudes, e logo no primeiro quarteirão está o Sacolão Mineiro, no qual com uma hora e meia eu termino de escolher tudo que tenho a comprar e retorno para casa.
Pronto.
Dito assim tudo é rotina. Porém não é, pela seguinte constatação: cada vez que vou não sou o mesmo, mas sempre um ser diverso do que era antes. São manifestações, experiências que constato do seguinte modo:
Às vezes estou triste. Vou melancólico, quase não olha para os lados, para as pessoas. Mesmo assim para na sorveteria que tem a poucos números de meu compromisso. Enquanto saboreio duas bolas de milho verde e chocolate branco com creme de morango, penso a respeito da vida.
Outras vezes vou a uma das várias bancas de revistas que há ao lado, ver o número da coleção de CDs “Raízes da Música Popular Brasileira”, da Folha de São Paulo. Animadíssimo, adoro samba.
Fecho um olho, para ao invés de olhar os CDs, não olhar as revistas da Playboy. Pecado!
Por vezes vou à papelaria comprar cartões.
Noutras apenas observo as pessoas. Mendigos cantando lixo, ricaços com seus carrões, os bêbados nos botecos e as putas. Assim eu escolho maçãs e peras no Sacolão.
Extraído do livro - Em contos: calpistas na criação. Helena Contaldo Martins (Org). Belo Horizonte: O Lutador, 2011.
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