segunda-feira, 16 de março de 2020

Cotidiano - Conto * Ronilson Lopes - AM

Cotidiano 
Ronilson Lopes 

Sacolão. Tomate, chuchu, batata, alface, cebola, pimenta. Toda semana. Desde o início deste ano corrente. 

Rotina? 

De fato! É o mesmo caminho. Geralmente as mesmas frutas e verduras são compradas. No entanto, nunca é rotina. 

Por quê? 

Moro na rua Getúlio Vargas número 46. Para chegar ao Sacolão desço duas quadras da mesma e dobro a esquina na Madre Gertrudes, e logo no primeiro quarteirão está o Sacolão Mineiro, no qual com uma hora e meia eu termino de escolher tudo que tenho a comprar e retorno para casa. 

Pronto. 

Dito assim tudo é rotina. Porém não é, pela seguinte constatação: cada vez que vou não sou o mesmo, mas sempre um ser diverso do que era antes. São manifestações, experiências que constato do seguinte modo: 

Às vezes estou triste. Vou melancólico, quase não olha para os lados, para as pessoas. Mesmo assim para na sorveteria que tem a poucos números de meu compromisso. Enquanto saboreio duas bolas de milho verde e chocolate branco com creme de morango, penso a respeito da vida. 

Outras vezes vou a uma das várias bancas de revistas que há ao lado, ver o número da coleção de CDs “Raízes da Música Popular Brasileira”, da Folha de São Paulo. Animadíssimo, adoro samba. 

Fecho um olho, para ao invés de olhar os CDs, não olhar as revistas da Playboy. Pecado! 

Por vezes vou à papelaria comprar cartões. 

Noutras apenas observo as pessoas. Mendigos cantando lixo, ricaços com seus carrões, os bêbados nos botecos e as putas. Assim eu escolho maçãs e peras no Sacolão. 



Extraído do livro - Em contos: calpistas na criação. Helena Contaldo Martins (Org). Belo Horizonte: O Lutador, 2011.

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domingo, 15 de março de 2020

Triângulo Amoroso * Antonio Francisco Pereira - MG

TRIÂNGULO AMOROSO

-cena da novela Totalmente Demais / Rede Globo-

Irmãos gêmeos, os dois Catetos eram muito parecidos. Cara de um, focinho do outro. Por isso a Hipotenusa, namorada de um deles, andava desconfiada de que eles se revezavam na hora dos encontros amorosos. Não era possível que seu namorado, sozinho, tivesse todos os dias aquele desempenho de touro reprodutor. 

Por isso, para tirar a dúvida e usando muito tato, Hipotenusa resolveu medir o cumprimento...de cada um deles. Mas deu empate de novo. O tamanho era sempre o mesmo. Chamou então os dois e lhes propôs um jogo amoroso mais criativo, sem enganações. Ela, muita alta, receberia os dois Catetos simultaneamente, um deitado e o outro em pé, formando todos um triângulo retângulo. Feito isso, a luz intimista do ambiente acabou por projetar nas quatro paredes do quarto as sombras das figuras que estavam se divertindo na cama. 

Então Pitágoras, o antigo namorado que estava filmando tudo para jogar na internet, não teve dúvidas em proclamar: “O QUADRADO DA HIPOTENUSA É IGUAL A SOMA DO QUADRADO DOS CATETOS”.
Pronto. Agora ninguém mais vai errar esta questão na prova do ENEM, vai?


Antonio Francisco Pereira / MG
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