A Lenda Das Estrelinhas Magras
Rosemberg Cariri
Apresentação:
Carlos Emílio Corrêa Lima
Rosemberg Cariri e o menino
do balde.
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A Mui Verdadeira Saga
destes pergaminhos - Rosemberg Cariri
&
Editora:
Secretaria de Cultura do Estado do Ceará /
Livraria Gabriel /
Nação Cariri Editora
Fortaleza - CE 1984
&
Ilustração:
Audifax Rios
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A Lenda Das Estrelinhas Magras
Era uma vez, numa cidade pequena e perdida nas florestas do Vale do Cariri Novo, um menininho muito pobre que, para ajudar à família, carregava baldes dágua para regar os jardins do cemitério municipal.
Durante todo o dia, o menininho ia do rio ao cemitério, no seu interminável ofício. Às vezes, exausto e faminto quedava-se à sombra de um túmulo e ficava espiando as abelhas voando de flor em flor, no mistério do mel, e as abelhas agitadas num balé de cores.
O menininho carregava o balde dágua sempre com a mão esquerda, e de tanto andar assim foi ficando torto, pendendo para um lado, como a haste de um caniço açoitado pela ventania. Com o passar do tempo, o seu corpinho subnutrido entortava cada vez mais. Tanto entortou que descreveu uma circunferência completa, unindo a cabeça aos pés.
Quando o conheci, ele já tinha esta tortice estranha, isto em épocas passadas, quando as noites eram escuras e densas, sem estrelas nem lua no céu para incendiar de beleza os corações.
A tarde já quase morria, chovia fino, dos túmulos desprendia-se uma névoa suave envolvendo os segredos do entardecer. O menininho, ao me ver, se aproximou, pediu para tirar uma fotografia ao meu lado. Consenti e alegrei-me com a sua presença, nos entretemos a conversar assuntos pequenos. Quando reparamos no tempo, a noite se derramara sobre a terra. Rápido, ele saiu rodopiando no espaço, brincando de disco voador. Saiu voando, voando, cortando o céu com imensa velocidade, até que chegou à grande escuridão, onde derramou seu balde de estrelinhas magras, que com asas de luz povoaram a noite. Sorriu uma lágrima que se fez lua.
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