domingo, 26 de julho de 2015

O Herói Que Não Retorna * Batista De Lima - CE

O Herói Que Não Retorna
Batista De Lima - CE
http://www.escritas.org/pt/estante/batista-de-lima 
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Gerôncio era coveiro de Tabocal. 
Rezava todo dia para que alguém morresse. Mas quando muito, havia um sepultamento por ano. Às vezes um velhinho que morria de velho ou um anjinho que morria de fome. Preferível se um velho, daqueles com dente de ouro ou aliança de casamento esquecida pela família na inutilidade da mão esquerda. 
Evitando desenterrar defunto pobre, Gerôncio conhecia de cor e salteado os portadores de dente de ouro da região. Então era só ir, no dia do enterro, alta noite, com a lanterna, o martelo e a pá, retirar a terra frouxa da cova e desenterrar o morto. Depois, bastava quebrar o dente com o martelo e levar o ouro para casa. Ele não esquece a morte do Pai do coronel Nicodemos. Foram cinco dentes de ouro dezoito. Finalmente comprou seu casebre onde morou até há pouco tempo, lá na ponta da rua.
Até que morreu a filha do fazendeiro Antonio Moreno. A menina tomava banho na beira do rio às oito da manhã quando caiu durinha. Não tornou mais. Trouxeram o corpo para casa e velaram até às cinco da tarde, quando se procedeu o enterro com todos os rituais cristãos. O repenique o dia inteiro, no sino da capela, parecia anunciar o enterro de anjo rico. As flores eram muitas. No campo santo, foi aberto o caixão para que o irmão mais velho, chegado de longe na última hora, visse o corpo da irmã. Estava linda, com todos os seus anéis nos dedos e colares no pescoço.
Gerôncio não esperou pela meia - noite, veio logo às sete e escavou a sepultura da menina. Mal abriu a tampa do caixão, a finada mexeu-se e foi logo limpando a terra dos olhos. O coveiro, assombrado, embrenhou-se na mata em disparada e nunca mais foi visto por ali. Quanto à moça, que voltou para casa assombrando a cidadezinha, foi dada como doente de catalepsia, escapando por milagre. Ainda hoje conta a história para quem quiser ouvir e ainda guarda a fazenda Gitirana para dar de presente ao salvador da sua vida. Só que o delegado tem uma cela pronta pra quando Gerôncio voltar.
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domingo, 19 de julho de 2015

Como Um Espantalho * Claudio Feldman - SP

Claudio Feldman - SP
https://www.facebook.com/claudio.feldman.1?ref=ts&fref=ts 
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"Poeta, escritor e roteirista, professor aposentado de língua e literatura. Polígrafo!!! Cláudio [Bauru, SP, 29.08.44] é um talento ímpar, prolífico, versátil, divertido, criativo. Merece os adjetivos." (Antonio Miranda) 
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/claudio_feldman.html 
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Como Um Espantalho 

Sádicos O crucificaram num poste do metrô Paraíso
Um camelô usou o sangue para demonstrar o novo tira - manchas
Circularam estudantes metalúrgicos cabelos brancos r famílias
Mas ninguém estacionou para enxugar suas lágrimas que tombaram no braseiro do asfalto e se evaporaram
Um político uivou que na reeleição pintaria os postes para conforto dos crucificados
A polícia quis algemá-LO como exibicionista e exigiu documentos
Mas ELE estava nu sem mãos ilha de gemidos
e desistiram pelas palavras hebraicantigas
Automóveis loucura poluição moedas 
Só um menino parou e disse para a avó que aquele malabarismo nunca passara na tv
Anoiteceu choveram luzes de anúncios multinacionais
até que o metrô murchou e um bêbado veio urinar no poste
onde o crucificado morria sem abraçar seu povo

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sábado, 11 de julho de 2015

Sonhos E Suicídio * Julio César Cabral - Barbacena - MG

Sonhos & Suicídio
CURUPIRA Ano 5
Nº 10 Outubro 1999
Editor: 
Antonio Cabral Filho - RJ
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O cidadão sonhou com um país onde havia justiça social e prosperidade:
- Os governantes tinham como meta comum criar e executar leis sociais amplas e abrangentes. A justiça era rigorosa com relação à corrupção.
- Não havia desemprego. O trabalho digno era um direito de todos.
- O ensino era gratuito em todos os níveis - dp pré - escolar à universidade. 
- Com a extinção dos problemas sociais, a violência tornara-se insignificante. 
- A saúde era prioridade máxima, aumentando assim a expectativa de vida da população. 
- O acesso à cultura e informação era amplo e geral.
Após acordar, o cidadão suicidou-se.

Júlio César Cabral - Barbacena - MG
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